terça-feira, 27 de abril de 2010

Lag BaOmer - Uma Maravilha!

Quando estamos em um ambiente totalmente escuro, qualquer foco de luz, por menor que seja, iluminará tudo.

Este é o efeito de Lag BaOmer. Um foco de Luz (no caso, de MUITA Luz) dentro de um período escuro.

Lag tem o valor de 33 (Lamed>Guimel) em hebraico. É o 33o. dia do Omer (cai em 18 de Yiar, seria dentro da lua cheia de Touro). Se lermos lag ao contrário (Guimel>Lamed), temos a palavra Gal, que significa "onda". Este dia é justamente uma onda e, se conseguirmos "surfá-la",  somos elevados. Esta elevação continuará reverberando até o próximo Lag BaOmer.

Em Lag BaOmer cessam muitas das restrições do Omer, como o corte de cabelo, e foi marcado por alguns eventos positivos dentro da Tradição Cabalista:

1) Cessa a morte dos discípulos de Rav Akiva. Eles foram assolados por uma praga durante o Omer, devido à incapacidade de respeitar as suas diferenças. Akiva tinha 24.000 discípulos, o que levou a 24.000 nuances de interpretação da Torah. No entanto, estes discípulos começaram a "corrigir-se" mutuamente, cada um querendo impor a sua verdade ao outro. Não souberam compreender, respeitar, os caminhos individuais. A Verdade é uma (Emet), no entanto, ela assume infinitas roupagens dentro da fisicalidade. Isto abriu uma brecha, uma necessidade de correção e então, foram assolados por uma praga. Esta mortandade termina num Lag BaOmer e restam apenas 5 discípulos a Akiva, dentre eles, Rav Shimon BarYochai (que viria a escrever o Zohar).

2) Shimon BarYochai, que ficou escondido 13 anos numa gruta recebendo o Zohar, finalmente sai e pode começar a expandir sua Sabedoria. Isto ocorre num Lag BaOmer.

3) Shimon BarYochai vai embora deste mundo num Lag BaOmer. Ele revela o Zohar no dia de sua partida. Por ser um tzadik, um iluminado, ele abre um portal de acesso a esta consciência no dia de sua morte.

Como veem, temos um momento muito especial!


São hábitos de Lag BaOmer:

- Vigília. O ápice de Lag BaOmer ocorre na madrugada, portanto, não dormimos. Fazemos a hilulá (conexão com a consciência de um tzadik) de Rav Shimon BarYochai e lemos o Zohar.

- Acendimento de uma fogueira. Também costumamos acender uma fogueira (ou algumas tochas) relembrando um hábito das crianças que, para despistar os oficiais romanos que perseguiam Rav Shimon, acendiam muitas fogueiras e tochas nas montanhas. Desta forma, ele não podia ser localizado à noite.

- Corte de cabelo. Como fica suspensa a restrição ao corte de cabelo, é comum que se faça isto no Lag BaOmer. Muitas pessoas esperam para realizar o primeiro corte de cabelo dos meninos (com 3 anos) em Lag BaOmer.

- Comer ovos. É comum que se coma ovos cujas cascas foram pintadas, enfeitadas, em Lag BaOmer. Para alguns, os ovos são símbolo de luto. Para outros, é uma forma de "comer o coração endurecido do Faraó".

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Este ano, Lag BaOmer cai no dia 02/05. A vigília, portanto, ocorre da noite do dia 01/05 para o dia 02/05.

Quem puder, procure um grupo cabalista para realizar a sua conexão de Lag BaOmer. É imperdível! O Kabbalah Centre irá transmitir a deles pela internet, portanto, entre em contato para saber como acompanhar também.

Se não puder, compre uma versão do Zohar e leia um pouco na noite do dia 01/05 para o dia 02/05. Leia sobre a vida de Rav Shimon BarYochai, Rav Akiva e demais tzadikim da Tradição.

Chag Sameach!

Baixe aqui o Idra Zuta para ler durante o Lag BaOmer: http://dailyzohar.com/?p=1838

quarta-feira, 21 de abril de 2010

Afinal, o que é Cabala / Kabbalah / Qabalah / Cabalah?

A Cabalah é um método para se alcançar a Iluminação.

Como todo método de Iluminação, ela envolve determinadas disciplinas, práticas "obrigatórias", hábitos inegociáveis.

Existem práticas referentes à alimentação, práticas referentes ao trato com dinheiro e posses materiais, práticas referentes à sexualidade, práticas referentes à relação com as demais criaturas do planeta e, principalmente, práticas para conexão com o Criador.

O principal conceito que deve permear todas as atividades diárias do cabalista é "amar ao próximo como a si mesmo".

O cabalista busca tornar-se um canal e uma morada para o Criador dentro da fisicalidade. Para isso, ele busca extirpar todas as ilusões e obstáculos que o impedem de se tornar tal.

A maior ilusão, o maior obstáculo é justamente o fato de não nos sentirmos unidos à toda a Criação. Por isso, nos é tão difícil "amar ao próximo como a nós mesmos".

O Sefer Chassidim (p.553) explica este sentimento fragmentado da seguinte forma: "Algumas pessoas rezam e não são atendidas porque permanecem insensíveis aos males dos seus semelhantes". Isto significa que eu jamais me tornarei um canal para a Luz se não me importar com as demais criaturas que me rodeiam.

Portanto, é missão do cabalista extirpar o caos do Universo.

Para trazer o equilíbrio de volta à Criação, o cabalista detém determinadas ferramentas, as quais ele deve compartilhar com os seus semelhantes. Ele irá fazer isso respeitando a diversidade que o Criador desejou que houvesse neste Universo.

Isto significa que a Cabalah NÃO É UMA RELIGIÃO. NÃO BUSCAMOS SEGUIDORES. BUSCAMOS AJUDAR A TODO AQUELE QUE DESEJA SER UM VETOR DE ELIMINAÇÃO DO CAOS DO MUNDO.

Por último, a Cabalah não lhe trará felicidade instantânea, muito menos "a salvação". Você é a única pessoa capaz de se "salvar". Depende de você fazer o que deve ser feito, se tornar uma pessoa melhor, ajudar ao próximo com respeito e compaixão, perceber seu impacto negativo no planeta e corrigi-lo. A Cabalah lhe dará ferramentas extremamente eficientes para que você alcance esses objetivos.

Lech LeShalom

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Literatura para quem deseja conhecer melhor a Cabalah:

"A prática do misticismo judaico" - Rabino David Cooper. ("God is a Verb" - original em inglês MUITO mais completo do que a tradução para o português)

"Tornar-se como D-us" - Michael Berg

sexta-feira, 16 de abril de 2010

A Oração Cabalista

Eu sei, eu sei, o Omer requer muita oração e meditação. Lendo o Daily Zohar de hoje entendi algo que gostaria de compartilhar: o processo de oração cabalista.

Para começar, vemos os cabalistas sempre dizerem: "D-us não precisa das suas orações. Você é que precisa fazê-las para canalizar a Luz." O que isto quer exatamente dizer? Que tudo o que é e será, já foi criado. Tudo o que vc imaginar e desejar, já existe, já está lá. Apenas nós não conseguimos trazê-lo para a fisicalidade. Seja por incapacidade nossa de canalizar e realizar a Luz, seja porque não existe preparo da realidade para receber determinadas coisas.  

O segundo corolário, da falta de preparo, da falta de receptor da fisicalidade, é o que nos leva a sempre buscarmos nos refinar, nos tornarmos canais viáveis para essa materialização das bençãos.

Temos basicamente 2 níveis de oração:

a) A oração pessoal improvisada, que é provida de uma carga egóica. Quando conseguimos dar uma forma pura aos nossos pedidos, ou seja, quando nosso coração está puro (Lev Tahor) e estamos realmente dispostos a receber aquilo que é melhor para nós e para a coletividade, este tipo de oração alcança níveis muito elevados dentro do Mundo Infinito. Movemos montanhas. No entanto, normalmente injetamos muito das vontades do ego e, também, não percebemos bem o porquê das coisas. Logo, por mais bem intencionados que estejamos, neste tipo de oração geralmente tentamos impôr nossas vontades, com vários argumentos bonitos, mas é nossa vontade. Devemos exercitar esta oração pessoal todos os dias, tentando a cada um deles, sempre refinar o nosso desejo, sentir em nosso coração a Intenção Divina e irmos entrando em sincronia com Ela.

b) O texto sagrado, repetido com foco e emoção. Alguns seres são capazes de unir as palavras de uma forma tal que elas se elevam até os portões do Paraíso, para unir-se perfeitamente ao Santíssimo, Bendito seja Ele (Kadosh Baruch Hu). Estas orações se tornam caminhos, vias de elevação para que qualquer outro ser possa também unir-se a Ele. Os textos sagrados, como a Torah*, os Tehilim** (salmos), o Zohar, o Sefer Yietzirah, o Anah Becoach, o Shemah Israel, o Modeh Ani, as várias bençãos cabalistas, etc., são alguns desses textos divinos. Por isso, os cabalistas costumam meditar recitando estes textos. Nunca fazemos uma oração pessoal, um pedido ao Eterno, sem acompanhá-lo de um desses dizeres divinos.

*A Torah não foi criada por alguém, ela se materializou e já veio com a combinação perfeita de palavras. Embora ela funcione em qq idioma, o ideal é que seja sempre lida em hebraico.

**Já falamos anteriormente que é um hábito retirarmos frases dos Tehilim e repeti-las como uma forma de meditação mântrica. Pois justamente a combinação perfeita das palavras vai criando uma via para as dimensões mais elevadas. O ideal é também repeti-las em hebraico.

O meu amigo Zion Nefesh explicou de maneira excelente como fazemos a oração cabalista. Vou transcrevê-lo aqui:

"Este tipo de oração penetra através dos níveis celestes e abre portas. Os anjos e as criaturas sagradas se unem e apoiam a conexão.

Uma oração apropriada requer três passos:
  1. Pré-meditação – para entrarmos na estrutura correta mental e de consciência. Neste estágio, você elevará sua alma acima da sua fisicalidade. Relaxe o corpo e a mente de qualquer interferência externa. Medite para que suas palavras sejam um canal para a Luz se conectar ao receptor (sua missão/desejo).
  2. Usando o texto sagrado para construir uma "escada" apropriada. Nós usamos os salmos do Rei David e o texto da Torah na oração para este fim. Se você possui orações pessoais (que incluem outras pessoas nelas), então comece lendo ou visualizando ("escaneando") o texto sagrado que já inclui nele uma conexão mais elevada. Continue com sua oração pessoal e termine-a novamente com um texto sagrado.
  3. Meditação silenciosa para visualizar a Luz descendo e se unindo ao receptor.  Nestes estágio, deverá haver entendimento e apreciação do processo. Agradeça à Luz por lhe dar o conhecimento e a habilidade de fazer o que você fez.
Tente fazer com que os três passos tenham duração de tempo igual.

As pessoas que correm para a sinagoga para fazer uma conexão, na maior parte das vezes, a perdem. Eles deveriam, pelo menos, meditar no porquê delas estarem indo ali e no que elas querem alcançar com isso.

D-us não precisa de nossas orações. D-us é uma Força constantemente disponível que nos permite nos conectarmos a Ele e canalizar Seu Poder para energizar nossas ações neste mundo."

In: http://dailyzohar.com/?p=1683

sexta-feira, 2 de abril de 2010

Shir HaShirim - Cântico dos Cânticos

O Shabat realmente é uma maravilha. Mas, o Shabat de Pessach é sempre muito especial. Nele, entoamos o Cântico dos Cânticos, que é um dos meus textos favoritos.

Todo o ritual do Shabat é um casamento entre Céu e Terra e entre homem e mulher, já que o casal é a materialização dessa intimidade entre D-us e cada um de nós. O erotismo é considerado, pela Cabalá, uma grande ferramenta, pois movimenta uma das mais poderosas fontes de energia que o ser humano pode movimentar. [Dentre as mitzvot (hábitos, mandamentos) do Shabat está o encontro físico do casal durante a madrugada.]

Muitas tradições sabem disso, e muitas se utilizam da sexualidade como ferramenta. Inclusive, as Artes Sombrias são notórias por justamente reduzirem a sexualidade a algo muito baixo em seus rituais.

Dentro da Cabalá, a visão do Cântico dos Cânticos nos dá o sentido "casher", apropriado, da sexualidade. Nele, sentimos falta do outro de forma visceral e, ao estarmos com o outro,  a atmosfera de erotismo é gerada pelo estarmos presentes. É o outro que desperta sensações em nós, mas nós estamos lá para despertar sensações no outro. Assim, temos o fluxo de receber e influenciar e tornamos esse momento em algo de perfeito equilíbrio: influenciamos e nos deixamos influenciar. Esta é a forma de ser que permite que o Universo funcione em harmonia.

Portanto, Shabat com Cântico dos Cânticos tem uma dose extra de Luz e uma dose a mais de erotismo, Graças a D-us.

Que neste Pessach consigamos todos sair da escravidão.

Baixe aqui o Cântico para ler esta noite.

Uma das frases típicas deste texto é o "Ani Le Dodi VeDodi Li" - "Eu sou para o meu amado e ele é para mim". Algumas pessoas gravam isto no interior das alianças de casamento.