sábado, 23 de junho de 2018

Dinheiro

O Rabino Nilton Bonder foi quem escreveu o tratado mais completo sobre dinheiro, segundo a ótica cabalista. Em seu sucinto e profundo livro "A Cabala do Dinheiro",  encontramos quase tudo o que precisamos saber sobre o conceito de dinheiro para a cabala.

No entanto, há muitas e muitas outras considerações, porque o dinheiro, na verdade, foi apenas a maneira que o ser humano conseguiu "materializar" algo muito abstrato: o peso energético (o valor que algo tem para nós) e a interconexão dos humanos (e dos humanos com alguns outros seres).

Aqueles que afirmam: "o dinheiro não existe", estão falando a verdade no sentido físico. O dinheiro é apenas um acordo: esta nota tem este valor, este saldo bancário possui este valor, etc. É muito fácil que ele deixe de existir de uma hora para outra. Cada vez mais fácil. Quando a energia de troca era materializada em algo diretamente consumível, como sal ou óleo, ela era mais "material", do que hoje, em que o dinheiro é uma informação contida numa nuvem de dados de alguma instituição com poder para dizer "eu sou dona do dinheiro". Cada vez mais caminhamos para uma sociedade onde o dinheiro será cada vez mais próximo do abstrato, do que ele realmente é: uma energia de troca.

Dentro de tudo o que devemos considerar neste novo momento "monetário" no qual estamos a ingressar, gostaria de destacar 3 principais:

1) Onde meu dinheiro trabalha? É muito mais fácil percebermos a interconexão das coisas através do nosso dinheiro. É claro que nos conectamos ao Universo através de outras energias, mas o dinheiro é a mais óbvia. Devemos pensar sempre: o que estou alimentando quando meu dinheiro sai do meu domínio? Que tipo de entidade está se beneficiando, crescendo, com o meu dinheiro, com o fruto do meu trabalho, do meu mérito? É incômodo pensar desta forma, mas é o correto.

2) Meu dinheiro é um empréstimo. Assim como quando morremos, devolvemos a matéria - o material químico do qual somos compostos -, para o Universo, devolvemos toda a nossa riqueza material. Assim, o acúmulo despropositado (e friso isso aqui: acumular sem um propósito definido) é extremamente negativo, faz mal para o Mundo todo. Dinheiro é uma energia de troca, e portanto, deve estar em movimento, sempre indo de onde está em excesso, para onde faz falta. A Cabala tem o conceito de Tzedaká: fazer justiça com dinheiro. O sentido não é moralista, é apenas de fazer o correto: tirar de onde sobra para onde faz falta. Não se doa para caridade para sermos "bonzinhos" e sermos vistos com bons olhos. Doamos para fazer o correto e evitarmos o mal.

3) O dinheiro é uma afirmação de valor. Como o Rabino Bonder bem definiu, através do dinheiro afirmo o que me importa e o que não me importa. Onde eu considero que vale a pena investir meu dinheiro, define meus valores reais. Se considero que um determinado valor é exagerado para dar, mas não é exagerado para meu consumo próprio, estou fazendo uma afirmação fortíssima, e da qual quase nunca me dou conta. Esta auto-análise financeira é uma ferramenta muito útil para refinarmos nossos valores. Na Nova Era em que estamos ingressando, isso extremamente importante.

quarta-feira, 20 de junho de 2018

Kaparot - Substitutos

O ritual de Kaparot, que estamos acostumados a fazer na véspera de Yom Kippur, na realidade pode ser feito em qq momento em que estejamos passando por um grande julgamento. Momentos de aperto, onde precisamos abrir o pequeno "buraco de agulha" para que as bençãos possam penetrar novamente nas nossas vidas.

Algumas vezes utilizei com parentes doentes e com animais doentes. Obviamente, o momento de nossa partida deste plano raramente pode ser alterado, pois faz parte de um sistema muito complexo e que foi pré-acordado antes de nascermos. Porém, acontece de, por algum mérito desta ou outra vida, podermos estender por mais tempo a estada de alguém. Kaparot pode nos ajudar a alcançar isto (embora seja raro).

(A cura de alguém é muito mais relevante no sentido de gerar cura para mais pessoas que estão ou estarão passando por esse problema. Por esta razão, é muito importante, ao pedirmos a cura de alguém - ou de nós mesmos - desejarmos sinceramente que esta cura seja para todos os que passam pelo mesmo que estamos passando. Muitas vezes, sua cura virá pelo mérito da cura de outrém. Por exemplo, cria-se um novo tratamento para outra pessoa, que virá a nos salvar.)

O uso que mais faço de Kaparot é para me libertar de situações opressivas. Funciona.

(A consciência que devemos ter aqui é de que nós trouxemos esta situação para nossa vida, foram nossas escolhas que nos levaram a essa opressão. Portanto, estamos passando para o dinheiro, este resultado e vamos transmutá-lo em algo bom ao transformarmos nossa opressão em benção para outros oprimidos.)

Explicarei o método com dinheiro como substituto nosso.

O Ritual

Pode-se usar qualquer quantia de dinheiro, mas é habitual que seja o mesmo valor de uma galinha viva. Porém, pela minha experiência prática, de fato pode ser qualquer valor em dinheiro.

Seguramos essa quantia de dinheiro acima da nossa cabeça, ou da cabeça do doente.

Falamos:

Filhos do homem, que moram na escuridão e à sombra da morte, presos pela miséria e por cadeias de ferro – Ele os tirará da escuridão e da sombra da morte e quebrará seus grilhões. Pecadores insensatos, afligidos por causa de seus caminhos pecaminosos e suas iniqüidades; sua alma abomina todo alimento e eles chegam aos portões da morte – clamam ao Eterno em sua angústia; Ele os salva de suas aflições. Envia Sua palavra e os cura; Ele os salva de seus túmulos. Agradeçam ao Eterno por Sua bondade, e [proclamem] Suas maravilhas para com os filhos do homem. Se há para um homem [pelo menos] um anjo intercessor dentre mil [acusadores], para falar de sua retidão em seu favor, então Ele lhe será gracioso e dirá: Salva-o de descer para o túmulo; Eu achei expiação [para ele].

(Gire o dinheiro em sentido anti-horário, acima da sua cabeça ou da cabeça do doente, ao pronunciar as palavras "minha permuta", "meu subtituto", "minha expiação")

Esta é minha permuta, este é meu substituto, esta é minha expiação. Este dinheiro será doado à caridade e eu irei para uma boa e longa vida e para a paz.

Fazemos isto 3 vezes, girando, no total, 9 vezes o dinheiro sobre a nossa cabeça ou sobre a cabeça do doente. Imediatamente depois, doamos o dinheiro para caridade. Temos que ser rápidos em doar.


terça-feira, 8 de maio de 2018

O Bem porque sim.

No dia 06/05/2018, o cabalista Yair Alon fez um comentário extremamente interessante sobre o porquê de coisas ruins acontecerem a boas pessoas. Desse comentário me vieram vários conceitos que eu já havia estudado dentro da Tradição.

Emanar o bem, fazer o bem, ser correto, esperando com isso prêmios do Universo, é uma atitude extremamente involuída. Será possível barganhar com o Universo assim? Se as  coisas funcionassem dessa maneira, em primeiro lugar, haveria aqueles que merecem o Bem e os que não o merecem. Qualquer pessoa minimamente sensível sabe que, para a Origem do Todo, somos igualmente amados. Seria injusto que a vida nos classificasse assim.

Porém, ao emanar o bem, especialmente sem interesses próprios (de reconhecimento, de vaidade, de receber algo em troca), quase sempre geraremos ondas positivas que acabarão nos atingindo novamente em algum dia.  No entanto,  isto não é 100% previsivel.

Se fosse infalível agir bem para receber o bem, a vida seria absolutamente controlável e coisas ruins, desafios evolutivos, só atingiriam a quem emana o mal. Tampouco é assim que vemos o Universo atuar.

Portanto, optar pelo bem é apenas uma escolha pessoal, numa tentativa constante de nos aproximarmos do Criador. Fazer o bem sem olhar a quem e sem interesses egóicos é um caminho quase sempre melhor, mas nem sempre infalível. E aí está o desafio: sermos bons, mesmo que o mundo não seja um espelho.

Certa vez, um amigo ateu me iluminou enormemente ao dizer: "tanto faz sermos bons ou maus no mundo. A vida trata a todos por igual. Mas é tão mais legal ser bacana, fazer coisas boas..."

E, em suma, é uma questão de prazer ser bondoso ou maldoso. No final das contas, tudo na vida é uma busca por prazer.


quinta-feira, 3 de maio de 2018

Política e Cabala

Muito procura-se dissociar a política da espiritualidade. Mas a verdade é que, se fazemos tudo com presença - como nos é pedido em todos os caminhos espirituais -, até a interação de poder (a política) também deveria ter espiritualidade nela.

O que sempre houve, é a religião (que não é espiritualidade), de braços dados com o poder. Isto quando não se confunde totalmente com o poder político, como no caso da maioria das ditaduras.

A espiritualidade mostra ao ser humano como se tornar Uno com toda a Criação. Qualquer rótulo, é uma dissociação do Todo. Qualquer coisa que classifique um ser humano como sendo superior a qualquer outro ente do Universo, é uma ilusão.

Ao estudarmos a história de Rabbi Shimon Bar Yochai, como estudamos hoje, no Lag BaOmer, sabemos que ele foi um perseguido político. Obviamente, alguém que tinha tanta certeza sobre si e sobre o que realmente importa no Universo, incomoda.

Rabbi Akiva, seu mestre, foi um preso político, assassinado na cruz (principalmente por apoiar a um rebelde, Bar Kochba).

Avraham Abuláfia, foi perseguido e preso.

Jesus da Galiléia foi um perseguido político. Falou que ricos e pobres eram iguais. Na sua única demonstração de ira no Novo Testamento, Jesus se revolta com o comércio da espiritualidade. Incomodou aos ricos, incomodou ao poder. E, portanto, foi assassinado. Junto com os "bandidos".

Moshé Rabeinu foi um rebelde, foi perseguido. Se libertou do poder.

Nem sempre a rebeldia contra o poder se sai bem no curto-prazo. No longo-prazo, ás vezes.

Espiritualidade na política não é um estado que declara que segue a este ou a aquele deus. Espiritualidade na política é, ao ocuparmos um cargo com responsabilidade sobre a sociedade, nós fazermos o bem, nós nos tornarmos como Um, nós compartilharmos dinheiro, amor e, principalmente, garantirmos DIGNIDADE para todos os seres que fazem parte da nossa sociedade. Amar ao outro como a si próprio, significa EXATAMENTE ISSO: AMAR ao outro como si próprio.

(E isto pode ser realizado por alguém que crê em espiritualidade ou não. Veja bem: a espiritualidade, independe de qq tipo de crença no além-vida.)

Meu pedido para o Lag BaOmer que termina hoje, é que a consciência de nosso mestre Rabbi Shimon nos mostre os caminhos para que não existam mais "podres poderes".

A ferramenta que humildemente ofereço é o Shemá Israel, cujo valor guemátrico é 13, o valor de "echad" (uno) e de "ahavá" (amor). Ser como um é amor e é nos aproximarmos da Origem.

Ao meditarmos nas letras e nos significados literal, metafórico, guemátrico e cabalístico do Shemá, espero que alcancemos todos juntos, o mais rápido possível, uma nova consciência.

Shemá Israel Adonai Eloheinu Adonai Echad




sábado, 12 de janeiro de 2013

Quarto atributo da misericórdia

4) Para o restante de Sua Herança


Observe como o Santo, Bendito Seja, se comporta com relação a Israel: Ele diz: "O que posso fazer para Israel, já que são Meus parentes com quem eu tenho uma relação de sangue?" Pois eles (a Comunidade de Israel) são a esposa do Santo, Bendito Seja. Ele os chama de "Minha filha", "Minha irmã", "Minha mãe", como nossos mestres de abençoada memória (Shir HaShirim Rabba 9) nos explicaram.

Está escrito mais além (Tehilim 148:14) "Israel, o povo próximo a Ele" (literalmente: aparentado com Ele), pois eles são Seu filho. Isto é o porque do verso dizer "Para o remanescente (she'erit) de Sua herança" - do termo "she'er basar" (relação de carne). Porque haja o que houver, eles são Sua herança". D-us diz: "O que farei se os punir, pois a dor será Minha?". Como está escrito (Yeshayahu 63:9): "Em todas as suas dores Ele é afetado." A palavra Lo ("Ele") está escrita com um Alef (para significar "Não"). Pois seus sofrimentos se estendem até a Maravilha Maior (Pele HaElyon)e mais além até as Duas Faces (Du Partzufim), onde a Supervisão Divina se concentra principalmente. E a palavra Lo é lida com um Vav (para significar "Ele"). Também está escrito (Shoftim 10:16): "E Sua alma estava entristecida pela miséria de Israel." Pois Ele não pode suportar a dor e a desgraça deles, pois eles são o restante de sua herança. Assim é com o homem em relação a seu amigo. Toda Israel é aparentada, suas almas são unidas e em cada alma há uma porção de todas as outras. Esta é a razão do porque de uma multidão cumprindo uma Mitzvah não poder ser comparada com alguns poucos cumprindo o mesmo, pois a multidão possui força combinada (Sifra em Vayikra 26:8). Esta é a razão, também, para a explicação de nossos mestres (Berachot 47:2) de que aqueles que são contados entre os 10 primeiros em uma sinagoga recebem uma recompensa igual a de todos que chegam depois, mesmo que os atrasados sejam em número de cem. O número "cem" significa isto literalmente, pois as almas dos 10 primeiros estão unidas em cada um, de forma que é como se houvesse 10 vezes 10, cada um dos 10 incluindo cem almas em suas próprias almas. Por este motivo, também, (Shavuot 39:1) "Toda Israel é fiador de um pelo outro.", já que cada um possui literalmente uma porção de todos os outros; e quando um israelita peca, ele faz mal não somente à sua alma, mas à porção dele que todos os outros possuem dentro de si. O que significa que seu vizinho é uma segurança para esta porção.

E já que todos os israelitas estão aparentados um com o outro, é justo que um homem deseje o bem-estar de seu vizinho, que seu olho verá com benevolência a boa fortuna de seu vizinho e que a honra de seu vizinho seja importante para ele como se fosse sua própria; pois ele e seu vizinho são um. Por isto fomos comandados (Vayikra 19:18) a "Amar ao seu próximo como a si mesmo". É apropriado que um homem deseje o bem-estar de seu vizinho e de que ele não fale mal dele, nem deseje que algo de ruim recaia sobre ele. Assim como o Santo, Bendito Seja, não deseja nem nossa desgraça, nem nosso sofrimento porque somos seus parentes, assim também, um homem não deveria desejar testemunhar o mal recaindo sobre seu vizinho, nem ver seu vizinho sofrer ou se desgraçar. E estas coisas deveriam causar-lhe a mesma dor que ele sentiria se estivesse passando pelo mesmo. E o mesmo se aplica à boa fortuna de seu vizinho.



Imagem disponível em: A Jorney Into Darkness

sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

Terceiro atributo da misericórdia

3) Que passa sobre a transgressão

Esta é uma grande qualidade. Pois o perdão do pecado não é dado por um delegado, mas pela mão do Santo, Bendito Seja, em pessoa. Assim como está escrito (Tehilim 130:4): "Pois Contigo está o perdão"; o perdão sendo que Ele lava o pecado. Como está escrito (Yeshayahu 4:4): "Quando HaShem tiver lavado a podridão das filhas de Sion". E, também, como está escrito (Yechezkel 36:25): "E eu aspergirei águas puras em ti". Este é o significado de "E passa sobre a transgressão": Ele derrama águas puras para lavar o pecado. O homem, assim também, deve se comportar. Ele não deve dizer: "Devo consertar aquilo que outro perverteu ou aquilo que é resultado de seu pecado?" Ele não deve falar assim. Pois quando o homem peca, o Santo, Bendito Seja, em pessoa, e não através de um delegado, corrige o pecado e limpa a mancha. A partir disto, devemos nos envergonhar de pecar novamente, pois o Rei, Ele mesmo, limpa suas vestes manchadas.



terça-feira, 18 de dezembro de 2012

Segundo Atributo da Misericórdia

2) Que tolera a iniquidade - Segundo Adonai

Esta é maior do que a qualidade anterior. Pois um anjo destruidor é criado toda vez que um homem peca, como fomos ensinados (Pirke Avot 4:13): "Ele que comete um pecado, adquire um acusador para si mesmo". E este acusador fica diante do Santo, Bendito Seja, e diz: "Fulano de tal me criou". Como nenhuma criatura pode existir sem o fluxo divino de poder, como pode o anjo destruidor que está de pé diante Dele sobreviver? Só seria possível se o Santo, Bendito Seja, dissesse: "Eu não alimento anjos destruidores, deixe-o que vá para aquele que o criou para que seja sustentado por ele". Se D-us dissesse isso, o destruidor descenderia para capturar a alma do pecador, ou para para decepá-la, ou o pecador seria obrigado a expiar a ofensa que criou o destruidor através de uma punição adequada, até que o destruidor fosse anulado. O Santo, Bendito Seja, não se comporta desta maneira. Ele tolera o pecado e o suporta. Ele alimenta ao destruidor e o sustenta assim como ele faz como mundo inteiro, até que uma de três coisas acontece: Ou o pecador se arrepende e anula o anjo destruidor através da severidade das penitências que ele se auto inflinge. Ou o Justo Juíz o transforma em nada através do sofrimento e morte do pecador. Ou o pecador desce ao Inferno para pagar sua dívida.

Este é o significado do apelo de Caim (Bershit 4:13): "Meu pecado é grande demais para ser suportado?", interpretado por nossos Rabbis de abençoada memória como (Midrash Tanchuma Bereshit Siman 9): "Tu suportas (isto é, Tu nutres e sustentas) o mundo inteiro; meu pecado é tão pesado que Tu não o podes suportar (isto é, sustentá-lo até que eu me arrependa)?"

Esta é a grande qualidade da tolerância, a de que Ele nutre e sustenta a criatura má criada pelo pecador até que ele se arrependa. A partir disto, o homem deveria aprender o quanto ele precisa ser paciente, suportando o jugo de seu vizinho e o mal feito por seu vizinho, mesmo quando estes males feitos contra ele ainda existirem. E ele vai suportar isto até que o mal seja corrigido pelo seu amigo, ou até que ele [o mal] desapareça por sua própria vontade e assim por diante.